NO FINAL DA DÉCADA DE 1930 MEU PAI, SUA IRMÃ, TIA GLORILDES, MINHA AVÓ JOSEFA, PARTIRAM DE ALAGOAS, REGIÃO DE PÃO DE AÇÚCAR, A BORDO DO NAVIO CHATA MIRANDA, DO LLOYDE BRASILEIRO, ZARPANDO DO PORTO DE PENEDO LOCALIZADO NO RIO SÃO FRANCISCO, COM DESTINO A ILHÉUS.
MEU PAI, A ESQUERDA. E SEU IRMÃO, MEU TIO ANTÔNIO EM ILHÉUS - 17/11/44
TIA LICA, OUTRA IRMÃ DO MEU PAI, SE ANTECEDEU A ESTA MIGRAÇÃO FAMILIAR, ENCONTRAVA-SE NA CIDADE, COM TODA LOGÍSTICA PARA RECEBER OS FAMILIARES.
MEU PAI, JOÃO ALVES, NA ÉPOCA COM 17 ANOS, DE INÍCIO TRABALHOU NO TABELIONATO DE TONICO BASTOS, PERSONAGEM DO ROMANCE DE JORGE AMADO, GABRIELA, CRAVO E CANELA, EM 1940, JOÃO PARTIU DE ILHÉUS COM UM GRUPO DE MENINOS PARA PRESTAR EXAME NA ESCOLA DE APRENDIZ DE MARINHEIROS DE SALVADOR, FOI APROVADO, CUMPRINDO SEU DESTINO DE CONHECER OS 7 MARES, A CONTRA GOSTO DE TONICO QUE GOSTARIA QUE JOÃO PERMANECESSE NO TABELIONATO, POR SE AFEIÇOAR A MEU PAI, ELE O COLOCARIA COMO SEU SUCESSOR.
NESTE ÍNTERIM TIA LICA CASOU-SE COM TIO OSCAR, QUE ATUAVA COMO CONFERENTE NO ANTIGO PORTO DO RIO CACHOEIRA, ATENDENDO A NAVIOS DA COMPANHIA DE NAVEGAÇÃO COSTEIRA, MAIOR EMPRESA DE NAVEGAÇÃO NACIONAL À ÉPOCA, DO LLOYD E COMPANHIA DE NAVEGAÇÃO BAHIANA.
FOTO AÉREA -DATA DESCONHECIDA - PORTO RIO CACHOEIRA - PELO MENOS 4 PONTES DE ATRACAÇÃO SÃO VISÍVEIS
ATÉ CHEGAR AO TEMPO DA MINHA IDA PARA ILHÉUS, QUANDO ASSUMI UMA SUPERVISÃO NO ICB - INSTITUTO DE CACAU DA BAHIA, A CONVITE DE JOSÉ HUGHES. NO 1º ANO FIQUEI HOSPEDADO NA CASA DOS MEUS TIOS LICA E OSCAR, FUI ACOLHIDO COMO FILHO, SEMPRE ÁS NOITES TINHAM RODAS DE CONVERSAS COM TIO OSCAR E COLEGAS DE TRABALHO, EDUARDO (ARROZ DOCE), ZÉ CARLOS (ZÉ ESPETO), NALDO, GUIMARÃES (PISA), MERICA, BINHA, POSTERIORMENTE (PAULO UBIRAJARA) BIRA, QUE FOI TRANSFERIDO PARA A ILHÉUS 3 ANOS DEPOIS DE MINHA IDA.
BEBENDO UMAS CERVEJAS, FUMANDO CHARUTOS, CONTANDO ESTÓRIAS E HISTÓRIAS DO MAR, DE SALVADOR E ILHÉUS ANTIGAS, DAS OPERAÇÕES PORTUÁRIAS NO VELHO PORTO RIO CACHOEIRA, OS NAVIOS, AS BARCAÇAS A PANO, A FERROVIA QUE TRAZIA CACAU DA ZONA RURAL PARA EXPORTAÇÃO. O CONVÍVIO COM TODOS ESSES AMIGOS CITADOS, FAZIA O TEMPO TRANSCORRER DE MODO AGRADÁVEL
NESTA IMAGEM, NÃO TEMOS A DATA, OBSERVAMOS UM NAVIO MISTO, CARGAS E PASSAGEIROS POSSIVELMENTE DE CABOTAGEM. ALÉM DE COMPOSIÇÃO DE VAGÕES FERROVIÁRIOS QUE SERVIAM A ILHÉUS. A CHAMINÉ NO DESTAQUE PERTENCIA A FÁBRICA KAUFMANN PROCESSADORA DE CACAU.
O ADVENTO DA INTERNET PERMITIU-ME TER ACESSO A IMAGENS E TEXTOS, DE FATOS QUE MEU PAI E TIO OSCAR RELATAVAM DE SUAS EXPERIÊNCIAS LIGADAS AO MAR. HOJE, GOSTARIA DE DAR CONTINUIDADE AS CONVERSAS, COM INDAGAÇÕES QUE IRIAM ESCLARECER MINHAS CURIOSIDADES. TEMPOS IDOS QUE FORAM MARAVILHOSOS. MAS SEGUIMOS. NA POSTERIDADE MEUS RELATOS SOBRE O MAR DA BAHIA SERÃO ESTÓRIAS.
VAMOS AO OBJETIVO PRIMÁRIO DESTA POSTAGEM, QUE É O ANTIGO PORTO DO RIO CACHOEIRA. DESDE OS IDOS DE 1535, COM A CHEGADA DOS PORTUGUESES, A HISTÓRIA DE ILHÉUS E SEU PORTO SE INICIA. NÃO IREMOS DIVAGAR SOBRE ESSE PASSADO DISTANTE, QUE IMPLICA EM PESQUISAS MAIS APROFUNDAS, E SIM, SOBRE A SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX, PRINCIPALMENTE DO PERÍODO DE 1940, DURANTE A II GRANDE GUERRA, INDO ATÉ A CONSTRUÇÃO DO PORTO DE MALHADO NO FINAL DE 1960. DESSE PERÍODO TENHO RELATOS DE PESSOAS QUE VIVERAM A ÉPOCA , A EXEMPLO DE MEU PAI E MEU TIO.
A CRESCENTE IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DA LAVOURA CACAUEIRA, JUNTO A RECEBIMENTOS DE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS, IMPULSIONARAM A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DE UM PORTO ORGANIZADO E POR RAZÕES DE VANTAGENS NATURAIS O LOCAL ESCOLHIDO FOI O ESTUÁRIO DO RIO CACHOEIRA.
EM 06 DE ABRIL DE 1911 O EMPREENDEDOR BENTO BERILLO DE OLIVEIRA FIRMOU COM A INTENDÊNCIA MUNICIPAL PROTOCOLO PARA A CONSTRUÇÃO DO FUTURO PORTO DE ILHÉUS. COINCIDÊNCIA OU NÃO NESTE MESMO ANO EM 17 DE JULHO O VAPOR CANAVIEIRAS INAUGURAVA O PRIMEIRO TRECHO DE CAIS DO PORTO DE SALVADOR.
A ELITE ECONÔMICA DE ILHÉUS BUSCAVA NÃO DEPENDER DA INFLUÊNCIA DE SALVADOR. EM ILHÉUS O CACAU ERA TRANSPORTADO EM PEQUENAS EMBARCAÇÕES E VELEIROS PARA SER EMBARCADO EM NAVIOS DE LONGO CURSO NO PORTO DA CAPITAL. O OBJETIVO MAIOR FOI ALCANÇADO COM A PRIMEIRA OPERAÇÃO DE LONGO CURSO ATRAVÉS DO NAVIO DE BANDEIRA SUECA O FALCO, COM DESTINO A NOVA YORK EM 26 DE JANEIRO DE 1926.
IMAGEM INTERESSANTE, NÃO TEMOS A DATA, MAS PELA ESTRUTURA DOS NAVIOS,FUNDEADOS, 6 AO TODO, CARGUEIROS CLÁSSICOS, SUPERESTRUTURA A MEIA NAU, PODE SER SEGUNDA METADE DA DÉCADA DE 1950 A PRIMEIRA METADE DA DÉCADA DE 1960. ESPERANDO EMBARQUE POR MEIO DE ALVARENGAS
PASSADO OS PRIMEIROS ANOS DO NOVO PORTO, FENÔMENOS NATURAIS COMEÇARAM A MOSTRAR SUAS FACETAS QUE DIFICULTAVAM O ENTRAR E SAIR DE EMBARCAÇÕES. ANTES DE RELATARMOS EPISÓDIOS ENVOLVENDO OPERAÇÕES PORTUÁRIAS NO PERÍMETRO DO ANTIGO PORTO DE ILHÉUS SE FAZ NECESSÁRIO ESCLARECER NUANCES ESPECIFICAS.
A BARRA DA BAÍA DO PONTAL É ESTREITA ENTRE SUAS MARGENS, A LESTE O MORRO DE PERNAMBUCO, A OESTE, ORLA QUE SE INICIA NA AV. 2 DE JULHO E SE PROLONGA PELA PRAIA DA AVENIDA. MESMO PARA ESSE TEMPO ONDE AS DIMENSÕES DOS NAVIOS DE LONGO CURSO ERAM BASTANTE INFERIORES AS EMBARCAÇÕES ATUAIS, A ENTRADA E SAÍDA DE NAVIOS ERAM REALIZADAS COM POUCA FOLGA NAS MANOBRAS. ESTE CENÁRIO SE POTENCIALIZAVA EM PERÍODOS DE VENTOS INTENSOS E VAGALHÕES.
UM CASO EMBLEMÁTICO FOI O NAUFRÁGIO DO IATE ITACARÉ EM 23 DE AGOSTO DE 1939, NA ENTRADA DA BARRA FOI AÇOITADO POR ENORMES VAGALHÕES, PROVOCANDO O EMBORCAMENTO DO CASCO, CAUSANDO INÚMERAS VÍTIMAS FATAIS, MANHÃ TRAUMÁTICA PARA OS HABITANTES DA CIDADE, DURANTE MUITO TEMPO O EPISÓDIO MARCOU A VIDA DOS ILHEENSES. TIA LICA ATUAVA COMO ENFERMEIRA PARTICIPOU DO ATENDIMENTO AOS NÁUFRAGOS.
COM O POUCO CONHECIMENTO QUE TENHO SOBRE A ENTRADA E SAÍDA DAS EMBARCAÇÕES, POIS, NÃO SOU PRÁTICO, NEM COMANDANTE, OS NAVIOS DE MAIOR DESLOCAMENTO, DEVERIAM SER REALIZADAS NA PREAMAR - NÍVEL MÁXIMO DE MARÉ, EVITANDO ENCALHES.
OS PORTOS LOCALIZADOS EM ESTUÁRIOS, QUANDO ÁGUA DOCE PROVENIENTES DE RIOS SE ENCONTRAM COM A ÁGUA DO MAR, PODENDO ACONTECER NO INTERIOR DE BAÍAS, A EXEMPLO DA BAÍA DE SANTOS, PARANAGUÁ E PONTAL. ESSES PORTOS RECEBEM CONSTANTEMENTE SEDIMENTOS TRAZIDOS PELA CORRENTEZA DOS RIOS, O QUE SE ACENTUA NOS PERÍODOS DE CHEIA
DESCONHEÇO A DATA DESTA IMAGEM, NEM SEU CRÉDITO, MAS É RICA EM DETALHES, ONDE OBSERVAMOS 5 PONTES E UMA ESPÉCIE DE PIER. DA ESQUERDA PARA DIREITA UM VELEIRO ATRACADO, EM OUTRA PONTE 2 ALVARENGAS, SINALIZANDO QUE O PORTO DO MALHADO AINDA NÃO ESTAVA OPERACIONAL, NEM EM SEU PIER DE MADEIRA. LOGO APÓS 2 EMBARCAÇÕES DE SERVIÇOS OFFSHORES, NA MARGEM DO PONTAL É VISÍVEL UM DESTROÇO DE NAUFRÁGIO, QUE DEVE SER O URUBATAN EM 1959 TRANSPORTANDO TAMBORES DE ASFALTO, OU NOSSA SENHORA DE LOURDES EM 1957, TRANSPORTANDO GADO. POR ÚLTIMO NA ENTRADA DA BARRA UM REBOCADOR REALIZANDO O REBOQUE DE UMA ALVARENGA. QUE TEMPO SAUDOSO.
ESSE MATERIAL SE ACUMULA NAS BACIAS DE EVOLUÇÃO DOS PORTOS REDUZINDO A PROFUNDIDADE, DEVIDO O ASSOREAMENTO, LEVANDO A NECESSIDADE DE DRAGAGEM DE MANUTENÇÃO PERIÓDICAS A FIM DE MANTER O CALADO OPERACIONAL DE PROJETO.
A BAÍA DE ILHÉUS RECEBE ÁGUAS DE 3 RIOS, O ITACANOEIRA TAMBÉM CHAMADO DE FUNDÃO, SANTANA E CACHOEIRA, ESSE CENÁRIO LEVOU A DIFICULDADE DE ACESSO A NAVIOS DE LONGO CURSO FAZENDO COM QUE A SOCIEDADE EMPRESARIAL DE ILHÉUS NO FINAL DA DÉCADA DE 1930 TOMASSE POSIÇÃO QUANTO AO FUTURO PORTUÁRIO DA CIDADE.
IMAGEM ANTIGA DE ILHÉUS, NÃO TEMOS A DATA - O PORTO DO MALHADO AINDA NÃO TINHA SIDO CONSTRUÍDO E MUITOS PRÉDIOS DA AV. SOARES LOPES AINDA NÃO EXISTIAM. A IMAGEM RETRATA O AEROPORTO NO BAIRRO DO PONTAL.
DEPOIS DE 3 ANOS VÁRIAS FORAM AS PROPOSTAS COLOCADAS À MESA DE DISCUSSÃO, DESDE A ABERTURA DE UM CANAL LIGANDO O OCEANO ATLÂNTICO DIRETAMENTE A BAÍA DE PONTAL, ATÉ A CONSTRUÇÃO DE UM PORTO OFFSHORE, EM MAR ABERTO, VENCEU A SEGUNDA. DIANTE DA DECISÃO, EM 1942 O ACESSO AO PORTO FOI CERCEADO A NAVIOS DE LONGO CURSO, FICANDO OS EMBARQUES REALIZADOS POR ALVARENGAS, BARCAÇAS SEM PROPULSÃO PRÓPRIA, ERAM REBOCADAS ATÉ OS NAVIOS FUNDEADOS AO LARGO DA CIDADE ILHÉUS.
NÃO É PRECISO SER ESPECIALISTA PARA ENTENDER QUE EM ÉPOCAS DE MAU TEMPO O SERVIÇO ERA INTERROMPIDO, EM VIRTUDE DAS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS REBOCADORES E PELA PRÓPRIA BARCAÇA, POIS A SAÍDA DA BARRA SE TORNAVA PERIGOSA, ALÉM DO POSICIONAMENTO NO COSTADO DOS NAVIOS FICAR IMPRATICÁVEL.
PÁTIO DE TANCAGEM DA PETROBRAS - ANTES DO POLIDUTO LIGANDO A REFINARIA DE MATARIPE A ITABUNA E JEQUIÉ OS DERIVADOS DE PETRÓLEO DESTINADOS A REGIÃO SUL DO ESTADO ERAM DESEMBARCADOS NO PORTO DO MALHADO. NÃO EMOS A DATA.
NESSE INTERREGNO OS SERVIÇOS DE DRAGAGENS FORAM REALIZADOS DE FORMA CONTÍNUA, MITIGANDO O ASSOREAMENTO. A DECISÃO DE CONSTRUIR UM NOVO PORTO EM MAR ABERTO SÓ TEVE CONTORNOS NO INÍCIO DA DÉCADA DE 1960, COM LOCALIZAÇÃO NA PONTA DO MALHADO, AO NORTE DO ANTIGO. RESSALTE-SE QUE O PORTO DO MALHADO, FOI O PRIMEIRO CONSTRUÍDO EM MAR ABERTO NO BRASIL
SOBRE O PORTO DO MALHADO TECEREMOS COMENTÁRIOS EM OUTRA OPORTUNIDADE.
RESSALTO QUE ILHÉUS NÃO ERA APENAS VISITADA POR NAVIOS, UMA IMENSA FROTA DE SAVEIROS DE VELA DE IÇAR ARMADOS EM TRAQUETE, ESCUNAS DE 2 E 3 MASTROS E EMBARCAÇÕES MENORES MOVIDAS A MÁQUINA DENOMINADAS DE IATE, FREQUENTAVAM NÃO SÓ O ANCORADOURO DE ILHÉUS, COMO TODO LITORAL DA BAHIA, TRANSPORTANDO CARGAS, PRINCIPALMENTE CACAU, PIAÇAVA E PASSAGEIROS DURANTE SÉCULOS, A ESSES HOMENS DEVEMOS NOSSO TRIBUTO, POIS NÃO SERÍAMOS UMA CIVILIZAÇÃO SEM SUA FAINA, CORAGEM E AUDÁCIA.
A FREQUENTE ESCALA DE NAVIOS DE BANDEIRA ESTRANGEIRA NA CIDADE PERMITIU A SOCIEDADE ILHEENSE MANTER UM ALTO PADRÃO DE CONSUMO, EM BEBIDAS, ALIMENTOS EXÓTICOS, PERFUMES, ROUPAS, EM SUMA, COMPATÍVEL COM A RIQUEZA QUE O CACAU PROPORCIONAVA. O PORTO DE ILHÉUS FERVILHAVA COM FESTAS E RECEPÇÕES.
JOSEMAR
ECONOMISTA - CORECON - 2065
