quinta-feira, 18 de agosto de 2011

MONOGRAFIA - UMA ANÁLISE BREVE DA ATUAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA NA ATIVIDADE NÁUTICA DE LAZER.- PARTE III

A ausência de estímulo também ocorre em relação às canoas, as quais geralmente pertencem a nativos residentes nas diversas ilhas da BTS ou no seu entorno, que vivem da pesca; não possuindo recursos financeiros necessários para trazer a reboque suas embarcações dos seus portos ao local da competição, cuja largada se dá em frente à praia do Porto da Barra, ou perder um dia de atividade pesqueira sem recompensa.

Mediante cobrança de taxas de inscrição, veleiros não tradicionais poderiam participar da Regata João das Botas. Esses recursos seriam revertidos aos saveiristas. Essa é outra forma de oferecer maior grandeza e visibilidade a essa competição e com isso atrair maior número de patrocinadores para o evento, ampliando também a faixa de premiação e assim, incentivando a vinda de maior número de embarcações clássicas.

A exemplo da Holanda, um barco de valor histórico tem um padrinho que o mantém, podendo ser uma instituição ou cidadão que tenha condições financeiras e reconheçam a importância em preservar a cultura ligada ao mar. O Governo Estadual deve avaliar a inclusão desta ação em seus objetivos para o setor náutico.

A estruturação de um festival náutico em Salvador, no mês de janeiro ou fevereiro, antes do início do carnaval baiano, constitui-se em uma interessante forma de atrair um maior número de visitantes a Bahia no verão. O formato desse evento seria: regatas de barcos clássicos locais, escunas, saveiros e canoas típicas; regatas de monotipos e veleiros de oceano; atividades de mergulho contemplativo de naufrágios e campeonato de caça submarina no interior da BTS e arredores; campeonato de pesca oceânica; salão náutico para barcos novos e usados; convites para tall ships (grandes veleiros clássicos), de diversas nações, onde os mesmos participariam de um desfile naval em águas da BTS e de uma regata a Ilhéus ou Porto Seguro.

                                                                         TALL SHIP
                                  http://nellsfarmhouse.blogspot.com/2011/03/tall-ships-are-coming.html

                                                      TALL SHIP EM FESTIVAL NÁUTICO
                                   http://allburrica.blogspot.com/2010/12/tall-ships.html

A relação custo-benefício de um evento dessa natureza é altamente favorável, pois a organização do mesmo seria partilhada entre o Governo do Estado, município e a atividade privada. O fluxo de visitantes durante o festival seria intenso, principalmente dos tripulantes dos Tall Ships[1], figura 22 e, por conseqüência, a Bahia firmaria sua marca no mundo náutico.                           
  
Outro vazio de atuação do CENAB foi o fomento a instalação de estaleiros para construção de embarcações de recreio em terras baianas, evitando a fuga de recursos financeiros quando um baiano adquire um barco em outro estado. Hoje não possuímos nenhum estaleiro produzindo lanchas em nosso território. Veleiros são produzidos em apenas um estaleiro, que constrói multicasco voltado para o público de alto poder aquisitivo. Um agravante foi à perda do Estaleiro Perimar para o Rio de Janeiro. Essa unidade construía lanchas na faixa de 26 pés a 40 pés. Seus produtos eram bem aceitos no mercado, inclusive em outros estados. Ao invés do mesmo se relocar da periferia de Salvador para o propalado Condomínio Náutico, ele foi para fora do Estado.

Enquanto isso, na Região Nordeste, Alagoas, Pernambuco e Ceará, contam com estaleiros produzindo não só lanchas de médio e grande porte, como também grandes iates com autonomia para travessias oceânicas, sendo que a soma do PIB desses Estados é inferior ao da Bahia. Além disso, Santa Catarina que possui um pequeno litoral e clima não tão favorável à prática do lazer náutico, exporta diversos modelos de embarcações para a Bahia.



[1] Navios à vela clássicos


MARGARIDA  E  JOSEMAR


MONOGRAFIA - UMA ANÁLISE BREVE DA ATUAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA NA ATIVIDADE NÁUTICA DE LAZER.- PARTE II

Nestes 10 anos de atuação do CENAB, algumas metas foram atingidas in totum ou de forma parcial, enquanto outras tiveram resultados negativos. A atração de regatas foi um desses objetivos cujo resultado foi plenamente alcançado. Alguns dos mais importantes eventos do mundo náutico têm hoje a cidade de Salvador como destino ou passagem de seus veleiros. Os atrativos dos mares baianos e os aspectos culturais e naturais circulam hoje pelo mundo em artigos veiculados em revistas náuticas, oferecendo maior visibilidade às excepcionais condições da BTS e do restante do litoral baiano para a prática do lazer e esportes náuticos. Dessa forma, mais visitantes serão atraídos para a Bahia, aumentado o fluxo de divisa na economia local.

O Raliye des Iles du Soleil, um dos mais importantes desses eventos, aporta todos os anos em Salvador, durante o mês de dezembro, desde 1996, ficando até a semana do Carnaval. A participação gira em torno de 30 veleiros, com uma média de 4 tripulantes por barco. Não é uma regata, é um cruzeiro coletivo, onde os barcos partem da França com escalas nas Ilhas Canárias, Dakar no Senegal e Cabo Verde, descendo o Atlântico Sul até Salvador. O que caracteriza esse evento é a prolongada estadia na capital baiana, de onde os tripulantes vão em busca de outros pontos turísticos do Estado.

                                             Raliye des Iles du Soleil - SALVADOR - BAHIA
           http://tangatamanu.wordpress.com/2011/03/04/o-que-podemos-aprender-com-o-rallye-iles-du-soleil/


A Jacques Vabre é uma regata de alta performance, com ampla cobertura da imprensa especializada, realizada de 2 em 2 anos. O local de partida é a cidade de Le Havre na França, com chegada em Salvador – Bahia. Competem 5 classes de barcos, cada uma com 2 tripulantes, entre monocasco e multicasco.

                                            BARCO DA JACQUES VABRE - SALVADOR - BAHIA
 http://www.comunicacao.ba.gov.br/conteudo/paginas/ciclo-de-regatas-na-bahia-veleiro-foncia-vence-classe-imoca-na-jaques-vabre/

Outra competição, a Transat 6.50, a exemplo da Jacques Vabre é realizada de 2 em 2 anos, no mesmo período. Partida de Fort-Boyard, França, com escala na Ilha da Madeira e depois Salvador. É uma regata em solitário, corrida com barcos de 6,50 m.

                                   BARCOS DA TRANSAT EM SALVADOR - BAHIA
http://www.comunicacao.ba.gov.br/fotos/2007/10/30/alunos-do-colegio-vale-dos-lagos-visitam-velejadores-da-regata-transat-6-50/alunos-do-colegio-vale-dos-lagos-visitam-velejadores-da-regata-transat-6-50-3/view

Em 2006, o CENAB captou outro evento; a antiga regata Cidade do Cabo / Rio de Janeiro, hoje denominada Cidade do Cabo / Salvador. É uma regata aberta à participação de diversas classes, desde barcos de cruzeiros, mais lentos, a modernos veleiros de regatas. A largada acontece na Cidade do Cabo, na África do Sul, vindo direto para Salvador.

Em contrapartida, a captação desses eventos internacionais, o CENAB relegou a um segundo plano a promoção das competições náuticas locais, principalmente as vinculadas às tradições culturais dessa cidade. Não operacionalizou entre as suas metas de trabalho a preservação da memória náutica da Bahia com foco nos saveiros e na arte naval empregada para construí-los e recuperação de acervo documental da CNB.

O exemplo mais significativo dessa situação é a Regata João das Botas. Criada em 1969 pela Marinha de Guerra do Brasil (MB) como instrumento para a preservação dos saveiros (figura 20), nesse momento, já em franca decadência, correndo risco de extinção. O nome do evento é uma homenagem a João das Botas, que desempenhou importante papel como comandante da eclética frota de embarcações locais que duelou contra os navios portugueses nas batalhas pela Independência da Bahia. A iniciativa da Marinha de Guerra do Brasil acrescenta, mas em virtude da importância do saveiro para nossa história e cultura, quem deveria estar à frente de um evento dessa natureza tem que ser o Governo Baiano.

                                                            REGATA JOÃO DAS BOTAS

                                     http://blog.abvc.com.br/page/7/  
                                                  
A Regata João das Botas em diversas ocasiões não foi realizada por falta de patrocínio ou apoio de outras entidades. Participam desse evento saveiros de vela de pena e de içar; escunas e canoas. Nas últimas edições foi notória uma participação insignificante de escunas e canoas (figura 21). As escunas são barcos de geometria naval clássica e quando a todo pano, ou seja, com todas as velas içadas, oferecem um belo espetáculo plástico àqueles que estão assistindo a competição náutica. Não competem mais em virtude dos custos para manter de prontidão um barco de grande porte, como são as escunas, sem estímulo aos seus proprietários ou aos mestres. Nesse momento é que deveria entrar o Estado em auxílio a MB, criando fórmulas que viabilizem a participação das escunas na Regata João das Botas, oferecendo prêmios aos seus mestres e marinheiros ou ajuda de custo aos proprietários.             
                   

                                                          ESCUNA DA BAHIA



                                                               CANOA TÍPICA DA BAHIA
                                       http://tangatamanu.wordpress.com/2011/01/


                                              REGATA JOÃO DAS BOTAS
                                   http://www.nectonsub.com.br/wordpress/archives/5276
                          
                                            REGATA JOÃO DAS BOTAS
                                 http://www.nectonsub.com.br/wordpress/archives/5276



MARGARIDA E JOSEMAR
                                    





                         

MONOGRAFIA - UMA ANÁLISE BREVE DA ATUAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA NA ATIVIDADE NÁUTICA DE LAZER.- PARTE I

O diagnóstico que se pode traçar em relação às instituições públicas da Bahia quanto às atitudes efetivamente tomadas em direção ao desenvolvimento da atividade náutica de lazer, buscando agregar renda e emprego ao Estado, é a ausência de planejamento governamental nesse sentido, pelo menos até a criação do Centro Náutico da Bahia (CENAB) em 1996.


A Bahia não desenvolveu as diversas vantagens comparativas citadas no capítulo três em relação às Unidades da Federação dotadas com litorais marítimos, áreas fluviais e lacustres. Convivemos com ausência de atitudes por parte da sociedade em cobrar dos governantes ações e políticas públicas que potencializem o desenvolvimento econômico que esta atividade e os efeitos multiplicadores que poderiam trazer ao Estado.


A Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER) contratou entre os 1980 e 1982 diversos estudos de consultoria para verificar a viabilidade técnica e econômica de implantação de terminais hidroviários e projeto de embarcações, para atender diversas localidades do recôncavo baiano, inclusive Salvador, a serem utilizados no transporte de passageiros, cargas e barcos particulares. Pouco foi realizado, e a aplicação de recursos públicos empregados nesses contratos de consultoria e outros esforços foram perdidos.

Entre esses projetos, destacam-se: a construção de um terminal para movimentar materiais de construção na Baía de Aratu; um novo terminal de Ferry Boat, também em Aratu; projeto de uma embarcação com capacidade para 630 passageiros e um terminal na Enseada dos Tainheiros, ligando o bairro da Ribeira à Plataforma, que inclusive foi o único que entrou em operação.

Outra investida nessa área, dessa vez na esfera da Prefeitura de Salvador, também congelado, é o projeto Via Náutica que englobava a construção de diversas estruturas náuticas ou piers entre a Ribeira e o Porto da Barra. Pelas características dos atracadouros, tomando como base o único construído e não utilizado em 2000, situado na Ponta do Humaitá, Península de Itapagipe, a função dos mesmos era atender o fluxo turístico e não o transporte convencional de passageiros.


Em dezembro de 1996, o Governo do Estado da Bahia, mais sensível à importância da atividade náutica de lazer como indutor de renda e emprego e diante das vantagens comparativas do litoral baiano, particularmente a Baía de Todos os Santos, criou o Centro Náutico da Bahia (CENAB), associação civil de caráter privado, sem fins lucrativos, sob a forma de organização não-governamental (ONG) (LOUREIRO, 2004).

 "O Centro Náutico da Bahia (CENAB) foi criado, por decreto, pelo Governo do Estado da Bahia, em dezembro de 1996, durante a gestão do governador Paulo Souto. Inicialmente vinculado à Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração, o seu objetivo é o de desenvolver o segmento náutico no Estado. À medida que o trabalho do CENAB cresceu sua administração, a cargo de um grupo especial de trabalho, foi se tornando cada vez mais difícil. Para contornar as dificuldades vislumbraram-se duas alternativas: criar uma estrutura própria dentro do Governo (o que ia de encontro ao pensamento vigente de descentralização do Estado) ou transformá-lo em entidade não governamental, com o respaldo do governo com o principal mantenedor, para conduzir a política de desenvolvimento da atividade náutica (ZACARIAS, 2002, apud LOUREIRO, 2004, p.51). [...] O caminho escolhido foi o segundo: criou-se uma associação civil de caráter privado, sem fins lucrativos, sob a forma de organização não governamental. Essa ONG colocou a Bahia como pioneira ao estruturar esse programa específico para o desenvolvimento da náutica. O trabalho de captação e recepção de regatas e rallyes internacionais gerou todo o programa que vem se desenvolvendo nessa área, na Bahia (LOUREIRO, 2004, p.51)."

O plano de trabalho do CENAB se direcionou num primeiro momento na atração de regatas, tendo como escala a capital baiana. Essa estratégia visualizava o nicho de visitantes ligados a este segmento, não só os tripulantes dos veleiros, mas também repórteres de revistas e jornais especializados no assunto, dando visibilidade à Bahia no cenário globalizado da náutica, aumentando no futuro, o número de embarcações navegando no litoral ou atraindo novos eventos.


Outra meta foi à inserção de menores carentes no mundo da vela, através do aprendizado em barcos optimist, laser, e outros. A escolha desses aprendizes se daria por critérios que iam da freqüência escolar a um satisfatório rendimento pedagógico.

O CENAB também promoveu a construção de embarcações de lazer em solo Baiano. Nos Galpões da Petrobrás, localizados na Avenida Jequitaia, cedeu áreas aos empreendedores com o intuito de montar pequenos estaleiros. Logo que esses empreendimentos atingissem uma maior escala de produção, seriam alocados na Baía de Aratu, onde o maior espaço físico livre, permitiria não só a diversificação do leque de modelos oferecidos, mas também, o aumento no porte das embarcações produzidas.


Por último, foram implementados cursos básicos na arte da construção naval, visando à implementação de mão-de-obra apta a atuar na incipiente indústria náutica baiana. Ressalta-se convênio que foi assinado com a Association Du Grand Pavois da França, com o intuito de passar tecnologias à Bahia na área náutica. A França é o país com maior desenvolvimento no setor de veleiros de cruzeiros.


MARGARIDA E JOSEMAR