Marileide 02 de setembro de 2024 ás 21:03
Não vou deixar passar essa oportunidade de fazer uma homenagem póstuma a minha querida e amada tia Doralice . São muitas estórias vividas e compartilhadas. Dora era uma daquelas pessoas que quando a coisa estava pegando fogo , ela apagava com uma boa risada e leveza .Que mulher de coragem! Guerreira por excelência. Foi preciso muita auto confiança para assumir a direção do Colégio da Bahia na época em que fora nomeada diretora, ocasião em que Salvador fervia politicamente. Havia nos Colégios o diretório acadêmico , o Grêmio que eram apoiados por políticos como Aroldo Lima e Lidice da Mata que faziam oposição ao governo de Antônio Carlos Magalhães. Os alunos se empoderaram , agrediam e ameaçavam professores e toda direção da escola . Greves , carros com auto falantes entravam pela escola a dentro , querendo impedir que as aulas continuassem , induzindo os alunos a uma rebelião estudantil . Não respeitavam ninguém . Muros eram pichados com palavras agressivas contra a diretoria da escola . Dora simplesmente , achava tão fora de propósito aquela situação , que comentava rindo e nunca se rebelou contra os baderneiros .Agia como uma educadora , chamava-os tentando conversar com os responsáveis e amenizar as ocorrências. No entanto quando era preciso tomava decisões corajosas , de fechar o colégio , por exemplo , quando não havia clima nem tempo hábil de pedir autorização à Secretaria de Educação . Assumia com determinação o risco que pudesse advir de seus atos apropriados para um momento de urgência .Fazia isso para evitar possíveis investidas da polícia que invadia o colégio para conter a baderna. Quando isso acontecia era um verdadeiro campo de batalha . Alunos correndo atirando pedras, pedaço de pau , guardas com armas atirando , professores e funcionários tentando se esconder para não sofrerem agressões. O único que era conhecido e era um “íncone “ no colégio era o administrador , um Sr , que já trabalhava lá há décadas e era conhecido como Edivaldo . Esse a polícia já conhecia e não era confundido com estudantes . No dia seguinte se via as paredes cheias de furos de balas , alunos com pernas e braços engessados, outros eram levados em camburões . Um verdadeiro caos . E Dora firme na direção procurando tomar as medidas necessárias e cabíveis em cada situação . Sempre através de diálogos e argumentações . Vale destacar que quando ela fora nomeada para o cargo o colégio já se encontrava assim . E foi um dos motivos pelo qual ela fora escolhida . Era conhecida pela sua altivez e comprometimento como educadora e também como conciliadora . Mas na época o ambiente assustava . Confesso que inúmeras vezes senti muito medo .Houve situações do colégio ser evacuado , dos professores saírem e Dora ficar sozinha na diretoria com um ou dois corajosos , inclusive eu . Meu caso não era coragem mas medo de deixá-la sozinha . A gente não sabia o que poderia acontecer ! Uma tarde estava dando aula , quando na porta da sala, chegaram um grupo de alunos , mal intencionados querendo invadir a sala para fazer os alunos deixarem a aula. Assim eles faziam de sala em sala . Eu pensei rápido e lhes disse que como mulher e frágil eu não poderia fazer nada , mas que na sala tinha homens e por isso eles não iriam entrar .Eles bateram em retirada e eu respirei por ter dado certo a minha estratégia. Dora nunca expulsou um só aluno desses.Era amiga de todos . Dirigiu aquele colégio , como ninguém e numa época especialmente difícil . Quem viveu esse tempo deve lembrar dos movimentos estudantis .E o Central era o foco deles .Dora nasceu para educar . E como ela era responsável! E como amava o que fazia !Quanta falta eu sinto de não tê-la mais entre nós.Sinto falta das tardes que passávamos juntas , relembrando estórias e rindo . Como Dora era bem humorada ! Um exemplo de fé e de esperança . Nunca desistia . Era mulher de oração. Para cada dia da semana havia uma belíssima e muito poderosa .As orações eram grandes e esotéricas, acho que aprendeu com seu esposo , tio João, um buscador espiritual que apontou o meu caminho, me respondendo perguntas e questionamentos na minha adolescência. Sim , meu orientador espiritual . Pertencia a várias ordem como Rosa Cruz , Círculo Branco , e Marçonaria , conversávamos muito. Eu era uma presença constante na sua casa . Lembro - me uma boneca que ele na minha infância, me trouxera da Argentina me deixando muito feliz e entusiasmada. A minha boneca era grande e de louça , dava passos quando levanta os braços alternadamente e fazia um som que eu ouvia como papai e mamãe . Salvador não havia bonecas assim nessa época .Nessa tempo , tio João tinha chegado de uma viagem de volta ao mundo como prêmio de ter participado da guerra . Ele pertencia a marinha e ainda não eram casados , namoravam . Mas, meu pai , zeloso com as irmãs , chamava os pretendentes para saber qual era suas intenções. Não foi diferente comigo . Depois de ter convidado meu namorado para um almoço num domingo para uma feijoada , ainda na mesa lhe perguntou “ quais eram suas intenções com sua filha “ . O rapaz , meu atual marido, quase infarta“ .Acreditem , minhas tias e eu , passamos por isso , neste século mesmo !
Depois que tio João e Dora já estavam casados , houve um episódio que ficou na minha memória .Nessa ocasião já havia mais duas irmãs casadas . Tia Marieta e tia Morena cujos cunhados eram amigos . Houve um roubo na galeria de tio Manoel , que ficava ali na misericórdia e os três começaram a sair à noite e voltavam tarde pra casa . Isso incomodou as mulheres e quando Dora ,perguntou a tio João onde eles iam toda noite , ele respondeu que saiam pra procurar o ladrao . Isso virou piada na família e Dora de pronto acabou com a saidinha deles .Porque certas coisas nos marcam e nunca esquecemos ! Eu era menina na época e Dora se tornou uma referência para mim , tanto que fiz vestibular pra letras seguindo seu exemplo. Quando me perguntavam o que ia fazer quando crescesse , eu de pronto respondia Letras . Não sabia nem o que era , mas já sabia que iria fazer letras .
Não me arrependi de ter feito letras , que me levou a estudar línguas e me abrir um mundo literário que me deslumbrou e de alguma forma me fez ficar auto confiante e elevar bastante minha auto estima .
Depois de aposentada completei minha formação fazendo musicoterapia na Católica , cujo currículo inclui , música , medicina e psicologia . Com essa formação pude ajudar Dora em um período crucial de sua vida , e só por isso teria valido a pena ter estudado mais quatro anos de faculdade.Dora era uma pessoa muito especial na minha vida e na vida de muitos .Soube conservar as amizades que fizera ao longo de sua experiência como professora e diretora , e na sua aposentadoria , marcava encontros mensais em casas de chá a tardinha com suas colegas do Central , que se tornaram amigas , frequentavam aniversário uma das outras e o melhor de tudo , anualmente nas vésperas de Natal celebravam no playgroud de sua residência um amigo secreto onde todas se presenteavam e comemoravam com um grande banquete onde cada uma levava um prato . Dora sempre fazia o peru , e seus complementos , sempre muito gostoso e uma farófia , especial além de bolos , refrigerantes , cerveja etc . Nesse encontro lembravam do passado , das situações vividas e riam muito . Participei de todos . O amigo secreto era muito divertido e iam mais de 15 amigas . Posso assim chamar , porque elas se curtiam mutuamente . Eu achava aqueles encontro o máximo . Era tudo muito bem organizado e todos estavam comprometidos . É preciso uma grande liderança para manter anos após anos esse clima festivo e de amizade . Essa é Dora, grande mulher e Emérita Professora celebrando a vida e a amizade no simbolismo do nascimento de Cristo até um pouco antes de retornar pra ele . Minhas homenagens a você minha querida tia e amiga !
MARILEIDE
Thiago
2 de setembro de 2024 às 17:47Emocionante saber mais sobre a história de meus avós. Tinha muita coisa antiga que eu ainda não sabia.
Teruake Ogasawara29 de agosto de 2024 às 07:26Josemar Parabéns mais uma vez dar valor aos antepassados (pai, mãe, avos, bisavós...etc) não faz parte da cultura brasileira muito choram na beira do caixão onda jaz uma vida e horas depois nem se lembras mais daquele que já se foram, cultuar a memoria dos antepassado são pouco infelizmente nos somos um país de não ter esta cultura neste sentido o sobrenome de família é algo impar para os orientais e para alguns países mais os brasileiros se da pouca importância infelizmente.
Que homenagem linda aos meus pais , a saudade e emocao sao intensas e o orgulho que sinto no coracao por essa bencao de ter e ser filha deles . Homenagem a educadora e professora Maria Doralice , me enche de amor e muitas saudades . Deus seja Louvado , painho e mainha !!!!❤️
Meu amigo Josemar, que bela homenagem é este artigo. Dona Dora e Sr João são dois grandes exemplos de pais e cidadãos que já não se encontra facilmente nos dias de hoje. Obrigado por dividir uma pouco desta história, são exemplos a serem seguidos.
Parabéns Josemar…Belíssima homenagem .. Dora e João , foram duas pessoas maravilhosas que graças a Deus tive o grande previlégio de tê-los não só como meus sogros, mas a consideração de um pai e uma mãe..Não tem como não mim emocionar, grandemente… guardarei eternamente na minha memória e no meu coração, momentos tão incríveis que vivi , ao lado de Duas pessoas tão especiais como João e Dora. Parabéns…👏👏👏👏👏❤️❤️
Inicialmente parabéns Josemar pela homenagem feita a D. Dora. Tive a satisfação de conviver com D. Dara por mais de 40 anos. Ouvir com muitos detalhes suas histórias quando Diretora do Colégio Central. Uma educadora dedicada, exemplo de esposa mãe e avó. Foram muitas risadas juntos e conselhos recebidos. Tenho D. Dora como uma mãe e sabia do carinho e consideração que Ela tinha por mim e minhas filhas. Praticamente todos os mossos aniversário nos falávamos. Por tudo que Ela representou e representa certamente que segue o sua caminhada pela eternidade com muita luz e na presença de Deus nosso Criador. Saudades sempre D. Dora.
Anônimo
1 de setembro de 2024 às 09:36Bira
Inicialmente parabéns Josemar pela homenagem a Dora. Tive a satisfação de conviver com D. Dora por mais de 40 anos. Ouvir com muitos detalhes suas histórias quando Diretora do Colégio Central. Exemplo de esposa, mãe e avó. Tenho D. Dora como uma mãe e sei do carinho e consideração que Ela tinha por mim e minhas filhas. Quase todos os nossos aniversário nos falávamos. Por toda sua história de vida certamente que Ela continua sua caminha pela eternidade na presença do nosso Criador. Saudades sempre D. Dora
Anônimo
1 de setembro de 2024 às 18:05Parabéns pela homenagem!!!
Diego
2 de setembro de 2024 às 10:09A educação deve ser sempre reverenciada e os educadores ainda mais! principalmente educadores da categoria e do naipe dela que dispensa apresentações! A todos que tiveram a oportunidade de conhecer e conviver, sabem que ela era uma pessoa muito especial de qualidade raras!! O legado foi deixado para que os filhos e netos possam implementa-lo e perpetuala na condição de aprendizes de toda a sua sabedoria!!
JOSEMAR