A APRESENTAÇÃO DO ARTIGO FAZ O LEITOR VIAJAR NOS DETALHES DAS EMBARCAÇÕES, NO PERFIL DE MOVIMENTAÇÃO DE CARGAS E OUTRAS SUTILEZAS DO PORTO SANTISTA, TUDO ENRIQUECIDO COM ENTREVISTAS DOS PRÁTICOS DA VELHA GUARDA.
UM REGISTRO HISTÓRICO DESSA ÁREA, DEVERIA SER REALIZADO AQUI NA BAHIA, FUNDAMENTADO PELA SECULAR E RICA HISTÓRIA NAVAL QUE PERMEOU NOSSOS MARES, APROVEITANDO ENQUANTO HÁ TEMPO, O SABER DAQUELES QUE SERVIRAM E SERVEM À PRATICAGEM NOS PORTOS E TERMINAIS LOCALIZADOS NA BAÍA DE TODOS OS SANTOS, BEM COMO, NO ANTIGO PORTO DA BAÍA DO PONTAL E DO MALHADO EM ILHÉUS.
Nesses últimos 50 anos, muitas coisas mudaram na área portuária e marítima. Como comparativo, em 1959, no apogeu profissional do prático Gerson da Costa Fonseca (falecido no último 7 de fevereiro, aos 91 anos), o movimento de carga e descarga no Porto de Santos (SP) foi de 12.365.750 toneladas. Era época da carga solta e os contêineres ainda não existiam na logística de cargas. O cais, em 1959, media pouco mais de cinco quilômetros, um tanto distantes dos atuais 13 km.
Quatro práticos que pegaram várias décadas da praticagem de
Santos. Através de suas orientações, vários navios foram conduzidos
com segurança pelo canal do Porto. No antigo prédio da praticagem,
clicada em 1995, vemos André Poyarat, Ismael Castanho, Fábio Mello
Fontes e Gerson da Costa Fonseca (1918-2010).
Em 2009, foram movimentados 2.225.599 TEUs (contêiner padrão de 20 pés), e a movimentação foi superior a 83 milhões de toneladas de cargas diversas.
Os embarques de café naquele ano de 1959 totalizaram 7.673.791 sacas de 60 quilos. Já em 2009, foram embarcadas 20.284.749 sacas do ouro verde – 1,21 milhões de toneladas. O café hoje é embarcado em contêineres dentro de big bags, com equivalência de 250 sacas (contêiner de 40 pés)
A movimentação de entrada e saída de navios foi de 4.083 embarcações. Em 2009, essa movimentação passou das 5.000 embarcações.
Na foto enviada por Wanderley Duck,
vemos os preparativos para embarque de
sacas de café, para o mercado europeu.
Por volta de 1952.
No entanto, naquele ano de 1959, só a Companhia Docas de Santos tinha em média 10.000 empregados, isto sem deixar de lembrar de outras categorias profissionais como: estivadores, ensacadores de café, conferentes, carregadores de bagagens, e toda uma gama de profissionais necessários nas atividades portuárias. – A Cidade de Santos era quase que totalmente dependente do cais santista.
Os serviços portuários exigiam mais dos trabalhadores, pois tudo era carregado e descarregado através de guindastes que por sua vez exigia um grande aparato de operários portuários, que se utilizavam as suas forças para posicionar as mercadorias para fins de içamento das lingadas.
Vista geral do Porto de Santos, na década de 1950, com vários
cargueiros atracados, e o transatlântico português Serpa Pinto.
Acervo do autor.
Já o serviço de praticagem, também era mais dificultoso, o serviço de rádio ainda não era muito utilizado, as manobras eram coordenadas através de código apitos e de sinais visuais. Bem diferentes da atualidade, onde é usado o sistema de walkie-talk, nas comunicações entre práticos e mestres de rebocadores.
Por sua vez, os rebocadores portuários, antigos eram lentos e dotados de pouca força (do tipo convencional). Os atuais do tipo azimutal possuem dois propulsores de liberdade horizontal, podendo assim se movimentar em todas as direções.
Na época do prático Gerson, os navios, como o Andes, eram pesados e
de manobra dificultosa, bem como os rebocadores, que tinham pouca agilidade e força. Julho/1953. Foto: José Dias Herrera. Acervo do autor.
As lanchas dos práticos eram pesadas e vagarosas. Suas construções eram de madeira. Tudo exigia mais tempo. Por exemplo, a lancha 25 de janeiro, levava meia hora, ou mais, dependendo do estado do mar para ir da antiga Ponte dos Práticos ao encontro de navios na barra. Atualmente são leves e velozes, e suas construções empregam fibra de vidro. – Em poucos minutos o prático chega ao costado dos navios.
Existe um grande diferencial entre a praticagem do século passado e a do XXI, segundo Fábio Mello Fontes (seu primeiro embarque como praticante de prático em 1969, foi com Gerson da Costa Fonseca), presidente da praticagem santista, os navios dos anos 50 eram pesados, morosos e de manobra difícil no porto, a visibilidade para ré era mínima. Suas turbinas a vapor eram de resposta lenta. A manobra era delicada e exigia do profissional, experiência, tirocínio, calma, e rebocadores adequados, nem sempre disponíveis. Isso somado a força maré, um marco temerário no cais de Santos.
A foto mostra parte do cais de Santos, na altura do Centro, onde
vemos o prédio da Alfândega, o Monte Serrat e o navio frigorifico
da Aliança Rafael Lotito, no lado direito da foto reproduzida. Nessa
parte, atualmente não atracam mais navios. Década de 1960.
Acervo do autor.
Muitas vezes era necessário largar âncora, na aproximação final do cais, para maior segurança. Atualmente o prático tem quer ser mais técnico, isto é, os antigos lemes, foram substituídos por dois maiores, um para cada hélice. Já não existem os antigos telégrafos de máquinas, hoje desnecessários. Todo o conjunto de comando é feito através de “joysticks”, que ao toque de um dedo despejam milhares de cavalos de força, de modo pronto e eficaz. Também existem os propulsores laterais, que dispensam rebocadores.
O artigo mostrou algumas das muitas diferenças ocorridas no porto, entre 1959 e 2009. muito significativas.
Sendo futurista, como será quando o Plano de Expansão do Porto de Santos virar realidade?
Um porta contêineres passando pela Ponta da Praia (2006). Navios
que ficam poucas horas no Porto para os serviços de carga e descarga
dos cofres de mercadorias. No tempo da carga solta, ficavam dias
operando. Foto do autor.
Segundo informações do Porto & Mar do jornal A Tribuna, serão investidos US$ 3,4 bilhões para construção de novos terminais, que possibilitarão a movimentação de 230 milhões de toneladas de cargas anualmente, isto é nos próximos 15 anos quase o triplo da movimentação de 2009.
Surgirá um novo terminal de navios de cruzeiros, na área do Valongo, que ultrapassará em muito os 820 mil passageiros que passarão, na atual temporada 2009/2010 pelo atual terminal de passageiros, bem como as 279 escalas de 20 transatlânticos. Vamos aguardar para ver o porto do futuro.
O Costa Victoria passando na altura da Ponte dos Práticos, em 2004.
Os cruzeiros modernos dispensam os serviços de rebocadores por
possuírem impelidores laterais, comandados por "joysticks".
Foto do autor.
As antigas lanchas de madeira eram robustas para aguentar os
embates do mar com os navios. No entanto, eram lentas. Foto enviada
por Wanderley Duck.
Foto da popa da lancha 25 de Janeiro, que pertenceu à praticagem santista. A legendária lancha conduziu diversos práticos do passado, como Edmar Botto de Mello, Aquiles Tacão, Carlos Stein, Teophilo Quirino, Alberto Carlos Praça, Frederico S. Bento, Mário de Azevedo, José Domigos Silveira, Ismael Castanho, Raul Marinho de Mesquita, Milton Console, José Console, fabio Melo Fontes, Felipe Schechter, Edio Portugal Marinho, os irmãos Afonso e Salvador Godinho, Antonio Robles Rodriguez, João Acioly Nogueira, e Gerson da Costa Fonseca.Além de muitos outros. Acervo do autor.
Na ponte de comando estão instrumentos ultramodernos, que
movimentam o navio a um simples toque de dedo nos joysticks.
Nota-se que não existe mais as antigas rodas do leme, bem como o
telégrafo de máquinas. Reprodução.